segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Deslocado



Era uma vez um pássaro.
Quantas e quantas histórias começam com esse "era uma vez?" Esta não será exceção.

Era um pássaro um tanto quanto incomum, por sua própria natureza. Irritadiço, inquieto, incapaz de parar no mesmo lugar. Estava sempre batendo asas, procurando algo que sequer sabia o que era. Apenas batia as asas e deixava-se levar.

Às vezes ele procurava por outros pássaros; ficavam algum tempo juntos, mas logo em seguida os outros pássaros partiam em bando, e deixavam nosso protagonista para trás.

Em alguns dias ele se sentia triste; em alguns outros, rejeitado. Mas era fato que, em todos os dias ele não conseguia se sentir parte daquilo. Não se sentia parte de nada.

Nos dias mais quentes do ano, ele gostava de voar pra perto das praias. A comida era um pouco ruim, e difícil de achar, mas ele gostava de pisar sobre a areia, gostava daquele vento quente e sufocante, das gotículas de água salgada dançando no ar.

Nos dias de inverno ele procurava a copa das árvores, aquelas que ainda tinham muitas folhas pra protegê-lo do vento. Ele até tentava se aproximar dos grupos de pássaros se aquecendo, mas eles logo fugiam. Nosso protagonista era diferente, era estranho, era único em sua forma de ser, e isso o entristecia.

Quando chegava a primavera era a pior parte; ele queria companhia, ele sentia falta de ter alguém para si, se é que tais coisas são possíveis no mundo dos pássaros. Ele procurava nos lugares mais insólitos, nos mais óbvios, em todos os lugares, mas nada era capaz de aplacar sua solidão, ninguém queria sua companhia, ninguém era capaz de compartilhar algo com ele; ou assim ele enxergava.

Os anos foram passando, e ele foi ficando sério e sisudo. Sarcasmo era seu pão, sua ferramenta contra aqueles que o incomodassem em qualquer aspecto. Sua ironia marcava-se no olhar esguio, e na aparência de risada. Pássaros podem sorrir?

Mais tempo se passou. Mais tentativas frustradas de se relacionar com os outros. Um belo dia ele simplesmente desistiu. Achou que era melhor pra si mesmo. Deveria se poupar de sofrimentos inúteis.

Voou até o prédio mais alto que conhecia e ficou olhando a cidade. Viu bandos de pássaros voando pelos céus, viu outros pássaros menos felizes sendo deixados pra trás; E finalmente entendeu que não era questão de se sentir bem-vindo entre os outros. O mundo dele era mais do que os outros podiam ver. Sem que tivesse percebido, ele queria muito mais da vida de pássaro, ele queria muito mais da vida em si. Deixou-se cair do último andar, abrindo as asas e voando perto do chão. Seu coração pulsava, ele se sentia eufórico.

Tinha a certeza de que não seria aceito pelos outros pássaros, mas isso não era importante, ele havia encontrado prazer e satisfação em ser apenas ele mesmo, fazendo o que gostava, sem precisar se parecer com ninguém, ou imitar ninguém. Seu mundo havia se tornado maior do que os outros podiam se dar conta.