sábado, 9 de fevereiro de 2013

Príncipe

Quando eu era pequeno, diziam que todas as meninas esperavam por um príncipe encantado; que chegaria num cavalo branco e as levaria pra longe, a salvariam dos problemas e eles viveriam felizes para sempre.

Essa história sempre me incomodou. Nem todas as meninas queriam ser salvas; nem todos os meninos queriam salvar meninas. Eu era um claro exemplo disso.

No fundo, talvez eu quisesse um príncipe pra mim; e assim que cresci, decidi por procurá-lo nos mais diversos lugares.

Conheci muita gente. De todas as cores, credos, costumes, hábitos, frequências cardíacas; mas nenhum me parecia o bastante. Um era muito novo, outro muito velho; um morava longe e outro morava muito perto. Um queria minha atenção a toda hora, o outro eu tinha que ficar procurando.

Alguns despertaram meu interesse, mas não foram capazes de fazer esse interesse durar mais que alguns meses. Às vezes algumas semanas. Nos piores casos, uns dias.

E em não encontrar um príncipe, eu fui levando a vida. Estudei, trabalhei. Conquistei meu próprio mundo, mas ainda sentia falta de alguém comigo. Precisava daquela companhia tão especial que tanto tinha sido dita.

Procurei em outros lugares, onde todos os gatos eram pardos e exalavam álcool de seus hálitos; às vezes misturado com nicotina. Às vezes com saliva de outros homens; ou outras coisas.

Procurei pelos museus, exposições de arte; procurei pelos shoppings.

Viajei em busca, mas encontrei apenas uma cama vazia, na qual eu me deitava à noite e esperava o sono chegar; E às vezes, só às vezes, ele vinha acompanhado de lágrimas amargas.

Com o passar dos anos e o aumento dos fios brancos, as minhas mãos marcadas ganharam veias mais salientes, e a disposição pra fazer as coisas foi diminuindo. Era chegada a hora de desistir da procura. Não encontraria o tal príncipe. Se não o encontrei jovem, não iria encontrá-lo na velhice.

Foi quando percebi que, por todo o tempo estive procurando o invisível; lutando contra moinhos de vento. Se tivesse dado uma chance a algum daqueles homens, não teria um príncipe ao meu lado, mas teria a companhia que sempre procurei.

Enquanto pensava que nenhum deles era suficiente pra mim, fui me transformando em alguém que não era suficiente, não era merecedor de nenhum deles.

Por isso hoje, rasgo as páginas desses contos de fadas, amargo, rancoroso. Transformei-me em bruxa má sem nem saber como; e não tem volta. É nisso que penso enquanto estas mãos calejadas e idosas despedaçam as páginas das histórias infantis em que ousei acreditar.