quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Fogos de Artifício

   Ainda lembro do nosso primeiro encontro; da forma como eu fiquei sem ação quando você me pediu um beijo, e me agarrou quando ninguém estava olhando. Não é que eu não quisesse, mas eu não esperava que você tomasse a iniciativa, ainda mais em público, sendo tão contido como você é. Foi divertido; eu senti seu coração palpitar por sob a blusa, mas pra ser sincero achei o beijo meio seco e sem-graça. Que bom que você corrigiu isso depois!
   O segundo encontro foi menos exótico, mais tradicional. Você se comportou direito, e eu quem fiz travessuras daquela vez. Você lembra?
   De repente, paramos de contar os encontros, de tão frequentes que eles se tornaram. Alguns foram ótimos; outros nem tanto; mas quase todos deixaram gostinho de quero mais, então a gente foi levando, e levando, até que decidimos ficar juntos.
   De lá pra cá, correram semanas, meses. Algumas brigas, porque não tinha como ficar tudo maravilhoso, mas a gente sempre conseguiu se entender, o que sinceramente, é novidade pra mim; e acredito que seja novidade pra você também.
   E mesmo depois de tanto tempo eu fico sem palavras de ver o brilho nos seus olhos quando estamos juntos, e imaginar a festa que acontece no meu coração quando a sua mão segura a minha: confetes, serpentina, fogos.

E que seja apenas o começo de um longo período juntos, e que se renove sempre.

Escolhas

   Eu queria que você entendesse - e aceitasse- que as coisas entre nós nunca vão mudar. Você sempre será parte de mim. Uma parte importante, daquelas que a gente nunca pode nem consegue se livrar. Uma parte dolorida, é verdade, carregada de lembranças desagradáveis e que fazem o coração doer; mas também uma parte que me deu muitos sorrisos, e ainda dá alguns, quando lembro das coisas boas que tivemos.
   O afastamento era inevitável. E acredito que foi tão bom pra você quanto foi pra mim. Precisávamos colocar as coisas no lugar. A cabeça no lugar, por assim dizer. Lágrimas rolaram, travesseiros foram abraçados, insultos foram ditos, seguidos de arrependimento às vezes. Poucas vezes na verdade. É, sendo honesto, não me arrependo. Gostaria de dizer que sim às vezes, que estava errado, mas lá no fundo sei que não estou.
   E os dias abafados de verão passam devagar enquanto eu olho o horizonte infinito, esperando por algo que não vem.
   Que a verdade seja dita, eu tenho evitado escolhas difíceis; tenho me mantido afastado do ponto sem retorno, justamente por ser o que é: sem retorno. Gosto de pensar que, caso algo de errado aconteça, eu tenho um porto seguro pra voltar, o que é muito raro nos tempos em que vivemos; cada vez mais rápido, cada vez mais intenso, de forma que tudo o que conseguimos discernir em nossa frente são borrões multicoloridos, às vezes vindo ao nosso encontro.
   Mas nunca é assim, e eu tive que aprender da pior forma, experimentando, sentindo cada cicatriz se formar na minha alma enquanto caminhos eram fechados, enquanto estradas imaginárias se desfaziam e pessoas davam adeus, sem mesmo saber que estavam se despedindo. Cada porta aberta significava também uma fechada, e não adiantava perder tempo pensando nisso.
   Os dias e meses passam mais rápido agora. Parece que faz tanto tempo que nos despedimos que eu nem consigo mais lembrar com exatidão, e nem foi tanto tempo assim; mas a mágoa e a vida me endureceram. Acho que nos endureceram né? E eu continuo com esse meu hábito de escrever sobre o nada, para ninguém. Escrevo porque acho melhor que dizer. Faz com que eu tire certas coisas do peito e deposite num cofre ao qual poucos têm acesso.
   Eu queria dizer que escolhi o novo. Escolhi a mudança. E isso significa abandonar tudo o que você representou pra mim. Desfaço os laços, quebro os vínculos, apago as mensagens e rasgo as cartas.
Sua aliança eu vou mandar pelo correio. Não acho justo continuar com ela quando é de família.
   Ainda gosto muito da sua mãe, apesar de provavelmente achar que eu não presto; e não posso culpá-la; se um dia achar oportunidade pra isso, diga o quanto gostava de conversar com ela.
   Por último, e acho que mais importante, deixo a chave do apartamento com você. Decidi mudar de ares, mudei de apartamento, mudei de cidade. Mudei de cabelo também, não que isso importe.
   De qualquer forma, junto com sua aliança vai a chave. Essa é a última porta que estou fechando porque dentro de mim, sei que de algum jeito as coisas agora vão dar certo. As próximas escolhas serão mais fáceis; eu só precisava dar o primeiro passo fora da sua vida.

PS: Não se culpe por nada, o aborto foi espontâneo. Eu estava zangada e quis que você se sentisse culpado. Pode me xingar por isso.