domingo, 24 de junho de 2012

Travesseiro

Gosto de dormir com o celular debaixo do travesseiro; minha mão segurando firme no aparelho, apesar de eu saber que ele não vai tocar.
Minha cama é de solteiro, mas é bem espaçosa. Por algum motivo que foge à minha compreensão, eu só durmo encolhidinho no canto da parede, com os olhos fixos na porta, por mais que eu saiba que ela não vai abrir.

Eu consigo ver o mostrador do relógio sobre o móvel, com ponteiros se movendo devagar sobre o fundo colorido, mexo os pés pra encontrar uma posição mais confortável, que eu sei que não virá. Giro pro outro lado e encaro a parede azul do quarto, como um murro direto no meu estômago, a me encher de lembranças.

E então eu percebo que às vezes, rir é a melhor coisa a fazer quando a outra opção é ficar triste.

Infelizmente, acho que eu perdi essa habilidade. Ficar sério parece minha escolha mais segura.


E de vez em quando eu me lembro de vezes como a noite passada, em que chorei até dormir, porque a opção era fugir, ir embora.

Nem sempre o desenrolar dos nossos planos depende exclusivamente de nós, mas quase sempre é nosso o poder de fazer o outro se sentir importante.

Eu viro a cabeça de novo. O ponteiro grande acaba de se mexer.

O travesseiro está molhado, e eu percebo que não foi a noite passada, foi há poucos minutos.

E eu não tentei ser corajoso; a minha vinda pra cá foi a minha escolha mais segura, o conforto desse travesseiro, ao invés do conforto que nunca virá, já que certas palavras nunca serão ditas.

Quando eu sinto que perco todas as esperanças, sinto o telefone vibrando na minha mão. Sem que eu tivesse percebido, já amanheceu, e é hora de a vida continuar.

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