segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Companhia



-Você reclama que está sozinho, procura em inúmeros cantos por um cara que te faça feliz; e falha em perceber que já tem um cara disposto a construir sua felicidade junto com você.
Mas não, esse cara você não quer, você quer o desafio, a incerteza; você escolhe a dúvida. Não venha me culpar quando eu desistir de você. Fiz tudo o que estava ao meu alcance. Tentei te ajudar a ser feliz. Você é quem não quis.

As palavras soavam ásperas, eu sabia disso, mas elas tinham que ser ditas. Ficaram entaladas por tempo demais na minha garganta. Por mais que eu o amasse, eu sabia que ele não queria um cara legal, ele estava sempre procurando pela emoção de um canalha, de alguém que flertasse com outros, quem sabe que o traísse.

Eu ofereci tudo o que podia. Afeto, atenção, carinho, amor. Ofereci amor? Ofereci aquilo que entendia como amor, mesmo sabendo que ele seria incapaz de retribuir. Porque amor é assim, você simplesmente sente, você simplesmente faz, sem se importar se terá retribuição, se vai ser recíproco.


Ele levanta os olhos pra mim pela primeira vez desde que eu comecei a falar. Isso não é uma conversa, apenas eu digo as coisas; ele balança a cabeça e sinaliza que entende. Não consigo funcionar assim; preciso da voz das pessoas assim como preciso de ar. Preciso que verbalizem o que sentem, preciso que me digam que não estou desperdiçando meu tempo falando com as paredes.

A voz dele sai tímida, como sempre, as palavras entrecortadas.

-Eu não procuro outras pessoas
-Mas também não se sente feliz comigo
-É... porque...
-Porque podemos dar errado, podemos discutir e brigar e nunca mais nos falarmos. Podemos dar certo e ficar juntos o resto da vida. Podemos dar certo por um tempo e querer coisas diferentes depois. O bom do futuro é que ele vai se construindo um dia depois do outro e depois e depois; não adianta pensar agora; não adianta calcular agora porque eu sou incapaz de entender você, você é incapaz de entender a mim. Somos todos tão absorvidos na nossa bolha de realidade relativa que em algum momento perdemos a capacidade de entender uns aos outros.
-Você fala muito difícil pra mim
-Eu falo muito. E falo o que sinto, esse é o problema. Dizem que eu sou bom em sentir as coisas; eu acho que sou bom apenas em falar e falar sem parar.

-A gente não pode ficar junto...
-Eu sei o que você vai dizer. Que não podemos fica juntos porque você acha que eu gosto mais de você do que você de mim. Mas somos pessoas diferentes, com experiências diferentes na vida. Nunca teremos o mesmo posicionamento com relação a algo. Não se trata de amar mais ou amar menos, nunca foi isso. Não existe quantidade de amor. Ou você ama, ou você não ama.

-Eu não sei se amo.
-Não sabe porque não quer tentar; mas eu não sei explicar o porquê, as coisas perdem um pouco do sentido e toda a graça quando o seu corpo não está perto do meu. É no encontro da minha mão com a sua, do seu sorriso com meu que as coisas parecem melhorar. É isso que me traz um sorriso.

Ele sorriu, tímido, novamente eu tinha falado demais.

-É por isso, por te amar, por querer você perto que eu estou sendo paradoxal e estou partindo. Se por hoje ou para sempre eu não sei ainda. Eu vou encontrar aquilo que perdi aqui dentro do peito, e quando eu encontrar, pode ser que eu volte; pode ser que você perca o medo que tem de mim, pode ser que as coisas se resolvam.
-Você tá falando com muita incerteza.
-Só posso ter certeza do presente. Por mais forte que seja o que eu sinto por você; o que eu sinto por mim mesmo vai superar; sempre. Sempre fui e sempre serei minha melhor companhia. A segunda melhor sempre foi você, mas acho que fui incapaz de demonstrar isso.
-Não, não foi.
-Promete que se cuida? Promete que vai continuar vivendo sua vida e tentando ser feliz?
-Eu sempre tento. Mas queria continuar te vendo.
-Você sempre sabe onde me encontrar. Eu sou a segunda melhor companhia que você podia querer, mas infelizmente você não quer.


Um abraço, um beijo e em seguida, o bater da porta. Foi difícil? Até que foi, mas finalmente eles estavam prontos pro hoje; os dois. E teriam que lidar com aquilo que mais temiam: eles mesmos.

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