domingo, 16 de setembro de 2012

Confissão

Ele estava mais bonito do que eu conseguia me lembrar. Talvez eu estivesse mentindo pra mim mesmo sobre ele ser feio, assim não ia doer tanto o fato de estarmos separados. Sempre é ruim afastar-se do que é bom, do que é gostoso, do que é bonito, e ainda mais do que junta as três qualidades.
Dedos se movendo silenciosos sobre as coxas, mostrando tensão. Os dentes cerrados, o olhar vago, sempre fitando  a porta na lateral esquerda da cafeteria. Ele não tinha mudado em nada, ou talvez eu tivesse mudado demais. Senti as pernas fraquejarem ao cruzar a porta, a respiração ficou pesada, e não havia como evitar.

Ao sentar, ele já está tomando café; eu decido pedir o mesmo. Antes que ele tenha a chance de dizer alguma coisa, eu o interrompo com a minha voz irritante. Preciso ter a chance de dizer tudo o que não foi dito.

"Sinto falta do 'nós', mas aprendi que o 'eu' é importante demais pra viver sob a sua sombra, esperando uma demonstração de afeto que nunca virá. Aprendi que seu medo de relações faz com que você embarque em inúmeras, sempre sabendo que não é capaz de se comprometer com nenhuma. Aprendi que estou melhor do jeito que estou, mas nada disso me impede de pensar que, se você tivesse me dado uma chance, se tivesse nos dado uma chance, eu realmente queria, e acho que conseguiria fazer você mais feliz.
Não importa o quão fortes e honestos sejam meus sentimentos; não existe relação criada apenas por uma das partes.
Não importa quantas chances eu ofereça, sei que você não aceitará nenhuma; e permaneceremos para sempre estagnados neste momento sem fim"


Ele parece perplexo. Não estava esperando por isso. Na verdade, nem eu estava. Tornou-se maior do que eu e tinha que ser dito.

"Eu quis te encontrar pra dizer que estava errado"

Pode ser que estivéssemos os dois errados, mas não havia mais tempo hábil pra desculpas, ou pra consertos. Infelizmente, os danos já haviam sido feitos, para ambos..


O que restava pra nós dois era apenas terminar o café, pegar a conta e seguir cada um seu caminho, amargurados pelas lembranças do que poderia ter sido.

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