quinta-feira, 16 de maio de 2013

Perdas...

Tenho ciúmes porque já me acostumei a perder. De pés de meia a amigos. De brincos a namorados; as perdas apenas se acumulam e se sucedem, uma depois da outra.

Começou muito cedo, bem antes do que eu possa lembrar de forma clara, mas eventualmente, as pessoas acabavam se afastando de mim sem que eu tivesse consciência de que elas estavam se afastando. Começava em um dia, depois uma semana sem ver, um mês, e quando me dava conta, não dava mais pra nos encontrarmos. Trocávamos mensagens frias pelo facebook e pelo MSN, na época que ainda havia o MSN.

Comecei a trabalhar e obtive meu próprio espaço. Minha mãe no começo não gostou; ligava várias vezes ao dia pra saber como eu estava. Acabou entrando num curso de dança pra terceira idade, depois num clube do livro e em outro, e outro; e agora só tem tempo pra mim no dia das mães e no meu aniversário. No aniversário dela sai com as amigas. Outro dia vi no facebook uma foto dela de maiô com as amigas na praia de Ipanema, ou Copacabana, não sei diferenciar as duas. É bom que ela esteja se divertindo.

Trabalho no meu cubículo. Computador ligado, tablet sobre a escrivaninha e dedos rápidos no teclado, ou sobre a tela. Meu trabalho tem que ser feito rápido, de forma constante; e acho que sou boa nele. Às vezes levanto fora do intervalo pra ir ao banheiro. Quanto à sede, aprendi um truque: garrafinha térmica de café e água sempre disponíveis. Pro almoço, sempre como naquele restaurante com placa "comida à kilo, bufê self-service" da outra rua. Os atendentes até já me conhecem, e tem sempre a minha mesa, no cantinho, com a televisão à vista. Não que eu assista, mas gosto de ouvir as notícias.

Nos finais de semana combino um barzinho com uma ou outra amiga; às vezes um amigo, mas quase nunca vou. Sempre acontece algo. Uma briga, um término, outro programa mais interessante, e eu recebo mensagens no whatsapp e por sms com pedidos de desculpas. Tenho ciúmes desses outros programas também, mas tem nada que eu possa fazer quanto a isso.

Fico então em casa, com filmes velhos no sofá. Perdi as contas de quantas vezes assisti Casablanca e Moulin Rouge. Gosto dessas coisas clichê, porque sei que nunca acontecem na vida. E se por ventura viessem a acontecer, não seria comigo.Já ouvi que sou uma pessoa desiludida, ou deprimida, mas todas as pessoas o são, em algum nível.

Às vezes bate a frustração. Tudo o que eu tive e considerei importante, perdi. Não quer dizer que deixei de gostar. Não quer dizer que deixei de querer e sentir falta. Lá no fundo, todas essas coisas sempre foram e sempre serão parte de mim. Todas essas pessoas seguiram comigo até o fim dos meus dias. Demorou muito pra perceber isso; que mesmo quando estamos sozinhos, temos montes de gente conosco.

Mas não muda o fato de ficar com raiva e apertar firme as mãos quando perco mais alguém. Não me impede de chorar enquanto abraço o travesseiro enquanto penso que seria melhor companhia, seria melhor amante, seria uma melhor pessoa do que quem está com você, sejá lá quem você for.

Tenho ciúmes de tudo aquilo que passou pela minha vida. Por mais breve que tenha sido. Tenho ciúmes do "viver" por si só, oposto ao existir que tenho levado, desde que cada pedaço importante que eu tinha foi tomado de mim.

Mas não o ciúme, ele sempre estará comigo me lembrando de cada coisa, cada lugar, cada pessoa.

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